Trabalho com neurodesenvolvimento
Temos membros em todas as regiões do país, mas perdemos pessoas do Norte depois do agravamento da pandemia que aconteceu lá. Muitos são profissionais da saúde e trabalham na linha de frente, precisaram atender integralmente as questões da região. Cada um desses membros traz uma visão muito particular do que é viver a pandemia no seu lugar de origem. Com isso, temos uma visão macro e ao mesmo tempo micro: ter uma ponte com esses locais ajuda a conseguir microdados específicos de cada região, até de municípios. Assim podemos ajudar as pessoas que nos trazem demandas e podem oferecer análises para os prefeitos e gestores locais. Gosto de ver nossos membros também como satélites que nos ajudam a chegar ainda mais longe no enfrentamento.
Não conseguimos atender a todas as demandas, buscamos priorizar o que é mais urgente e precisa ser feito imediatamente. Temos estratégias de organização para tentar abraçar o máximo possível de questões. Nosso trabalho é voluntário, todos fazemos no tempo livre, nas brechas. Não precisamos pedir nada, os integrantes da rede veem o que precisa ser feito e fazem. É difícil conciliar isso com tantas pessoas, sou muito grata. Durante a pandemia vi com meus olhos nascer um grande engajamento nas pessoas.
Trabalho mais no grupo de divulgação científica, fazendo contribuições nos demais grupos. Meu principal papel na rede é fazer uma ponte entre coordenadores e membros. Cada grupo tem suas próprias metas e objetivos, mas gosto de fazer esse papel para ver para onde a rede quer ir, como um todo.
Desde o ano passado, o Twitter se tornou uma rede muito importante de compartilhamento de informações. A ponto de a CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] da Covid-19 estar atenta – os senadores põem vídeos, comentam conteúdos que as pessoas levantam. Vemos no Twitter muitos pesquisadores, muitos profissionais que as pessoas buscam para seguir. É um lugar de troca, de discussão científica. Tem informações que encontro ali antes de ver na mídia e pesquisadores que, mal mandam um artigo para submissão, já compartilham alguns dados. Virou um lugar estratégico para obter informação, mas é preciso ter senso crítico para isso, porque a desinformação circula de maneira até mesmo mais rápida que a informação. Temos contato com a equipe do Twitter Brasil, do Facebook e do Instagram – eles estão muito engajados na luta contra a desinformação e em dar espaço e visibilidade para quem tenta levar uma mensagem informativa adiante.
Seria ideal podermos entrar nas bolhas onde circula desinformação e mostrar que a informação não é político-partidária. Fico feliz porque criei estratégias para que a pessoa perceba que meu conteúdo está acima disso. Trago dados: o que o artigo quer dizer e a implicação daquilo para a sociedade. Consigo dialogar com pessoas que têm ideologias muito diferentes da minha, criando um local de comunicação não agressiva e de respeito. Quando dá certo, esses diálogos são pequenas grandes vitórias, porque vemos que a pessoa sai diferente: abandona o discurso agressivo, começa a ir atrás de informação para nos rebater e até a se questionar sobre o que tinha dito no início. Se conseguirmos pôr o benefício da dúvida em uma pessoa por dia, são 365 em um ano.
Vejo como muito inusitado o reconhecimento que recebi por essa iniciativa. A visibilidade me dá acesso a pessoas que antes não alcançaria. Consegui montar uma rede de contatos muito legal, incluindo pesquisadores que demoraria anos para conhecer, se dependesse de nos encontrarmos em algum congresso. São jornalistas, pesquisadores, comunicadores e especialistas do Brasil todo e várias partes do mundo. Essa rede vai continuar a existir, se adaptando às questões que seguiremos tendo que enfrentar.
Felizmente tenho condições boas de trabalho. Durante a pandemia consegui juntar dinheiro e investir em uma webcam um pouco melhor, em um teclado, alguns componentes que cabem no meu orçamento e ajudam a melhorar minhas transmissões, streamings, lives. Também tenho um ambiente de muito apoio e parceria em casa. Moro com meus pais e minha irmã, dividimos as tarefas domésticas. Estamos trabalhando sete dias por semana, então nos ajudamos, um cobre o outro. Se um não conseguir ajudar em uma semana, pode compensar quando puder. Todos entendemos o momento de trabalho uns dos outros.
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